terça-feira, 3 de outubro de 2023

Um serrote que engolia facas, um outro que se ouvia batuques e uma porteira misteriosa

             As lendas são manifestações que cada cidade guarda como identidade folclórica, e graças a oralidade se mantém viva ao longo do tempo. Na belíssima cidade de Fernando Pedroza, temos algumas lendas que ao longo da minha vida neste torrão, ouvi sempre falar, nas rodas de conversas dos mais antigos moradores, caçadores, vaqueiros e agricultores. E uma das nossas preocupações é que estas jamais possam se perder da memória ao longo do tempo. Nessa linha de pensamento, no mês de Agosto de 2023, um grupo de Estudantes da Escola Municipal Fabrício Pedroza, realizaram uma pesquisa, cujo o tema foi: O Folclore: redescobrindo e compreendendo lendas e histórias populares na comunidade de Fernando Pedroza. E, um dos principais objetivos foi Identificar através de pesquisa a popularidade e legitimidade das lendas ou histórias populares no Município de Fernando Pedroza.

A metodologia

Para obter os resultados acerca do problema foi elaborado um breve questionário e destinado a um estudo de caso para alguns moradores mais antigos e com faixa etária de idade acima de 50 anos e que sempre residiram no município. 

A extensão e aplicação da pesquisa foi realizada pelos estudantes do 7º Ano do Ensino Fundamental Anos Finais e EJA, 4º e 5º Períodos, estipularemos um total de 25 pessoas  participaram da entrevista realizada pelos discentes de forma domiciliar. Os resultados foram transformados em pequenos gráficos e apresentados na semana do Folclore nos eventos pedagógicos propostos pela unidade de ensino. 

Conforme a pesquisa e resultados dos gráficos apresentados, a conclusão foi que as histórias populares/lendas, tem reconhecimento, popularidade e legitimidade na maioria dos entrevistados no Município de Fernando Pedroza/RN, constatando uma das manifestações do folclore Local.

 As Lendas pesquisadas foram: O Serrote do Engole Facas, o Serrote do Batuque/Forró e a Porteira Preta.

Segue abaixo as histórias de cada uma delas.




O serrote que engolia as facas dos cabras macho que iam ao arrasta pé

 

           Em décadas passadas os forrós de casamentos, festividades juninas, ou de final de ano nas cercanias rurais do Distrito de Fenando Pedroza atraía uma multidão pelo desejo de tirar uma cavalheira pra dançar num forró no sítio ao som de uma sanfona, triângulo, pandeiro e zabumba, encher a cara de umas “caébras” ou Canjebrina.

         Mas em meio a tudo isso, era um tempo que “andar com uma peixeira nos cós das calças” era sinônimo da “cabra brabo” e ir a um forró sem ela, era taxado de “cabra  frouxo”.

          Como na maioria das vezes os donos das casas que realizavam as festanças, devido as inúmeras confusões, as chamadas “ambuanças” proibiam as entradas dos cabras que resistiam de andar sem as peixeiras.

          A única solução para entrar nos forrós que comumente ocorriam nas Fazendas Tupá, Ariosa, Recanto entre outras, ou mesmo nos forrós que ocorriam na cidade, era esconder as facas em um lugar “seguro”. Sendo assim, entre as veredas e estradas, os frequentadores das festanças encontraram um belo serrote para escondê-las.

            Sabe-se conforme a oralidade dos mais antigos moradores desse pequeno torrão, que por inúmeras vezes os frequentadores escondiam suas companheiras de cós, em um serrote muito formoso e diferenciado dos demais.

            Já no cair da madrugada, quando o aperitivo esquentava as moleiras, era comum as “confusões”, e para aqueles que deixavam as peixeiras nesse serrote, certamente das suas companheiras precisavam recorrer, mas é sabido que em várias situações ao chegar no serrote, se punham a procurar aquela que seria a salvadora das brigas.

          No entanto, muitos jamais encontraram-nas na tão desesperada situação, e ao amanhecer no alvorecer do sol e da ressaca, as desconfianças e os murmurinhos que se espalhavam, davam conta de modo inexplicável de que o serrote havia engolido as facas. Até os dias atuais, os mais antigos moradores, reconhecem essa história popular com característica de lenda local.

 

O Serrote do Batuque ou do Forró

          As inúmeras serroteiras que existem na extensão das estradas e “varedas” (veredas) do sertão pedrozense, rodeados da caatinga magistral e encantadora, enfeitadas com a bela formação rochosa que nos dão a ideia de animais e até de seres extras, guardam consigo misteriosas histórias que vão passando de geração em geração, e que estiveram presente na vida de caçadores, vaqueiros, agricultores, pessoas indo e vindo das feiras e dos forrós...

         Pras bandas das Fazendas Canta Galo, Ariosa, São Vicente, Recanto, entre cercados e a caatinga esplêndida, há um desses serrotes que misteriosamente ecoa variados sons, uns falam de batuque muito característico de instrumento musical do tipo zabumba e triângulo, ou mesmo som de atritos entre duas pedras.

         Os mais antigos frequentadores dessas estradas e “varedas” a leste da comunidade, sempre relataram que após às 18:00h., era muito comum ouvirem os mais diversos sons vindos desse serrote.

         Há quem diga que quanto mais se aproximavam do local, maior era a velocidade dos batuques. O fato é que o memorável e “assombroso” serrote ainda causa certo arrepios aos que por lá passam, e certamente para os que por ventura um dia tomem conhecimento desse episódio e resolvam desafiar a ouvir os batuques do serrote que ninguém jamais viu ninguém, mas que sons já ouviram! 


A Porteira Preta, a que se abre misteriosamente sozinha...

As porteiras no sertão assim como em outros lugares, assumem uma função, é aquela em que as pessoas acessam uma propriedade, um curral, um quintal, enfim ela nos representa um marco para um determinado destino, no sertão nordestino é comum as pessoas usarem as expressões:

É lá perto da porteira de fulano de tal!

... já estamos bem pertinho da porteira de beltrano!

E o que mais chama a atenção, são as formas criativas dos sertanejos em relação a confecção artesanal das fechaduras...

A Porteira Preta, misteriosamente conhecida nos arredores da comunidade de Fernando Pedroza, situada ao leste da cidade, na encruzilhada das estradas que liga a BR 304 e as casas das Turmas, em direção as diversas Fazendas, não havia uma fechadura específica, ela se tornou ao longo dos tempos uma passagem que despertou medo e um enigma que até hoje ninguém conseguiu explicar.

Conforme relatos de caçadores, agricultores, vaqueiros, cortadores de lenha, entre tantos outros que precisavam trafegar para aquelas bandas, relatam que por muitas vezes ao chegar próximo a Porteira, percebiam que ela se abria de uma forma bem espontânea como se alguém invisível tivesse manipulando-a.

Frequentemente ouvia-se as pessoas falarem umas para as outras: “não vá tarde da noite para aquelas bandas das Turma, pra lá há a porteira Preta mal assombrada!”

Assim, ao se aproximar a ‘boca da noite” o temor de muitos ao se destinarem para a porteira, era justamente o receio da ela abrir sozinha, fato que de vez enquanto rolavam boatos de alguém havia se assombrado ao passar por lá.

 


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