As lendas são manifestações que cada cidade guarda como identidade folclórica, e graças a oralidade se mantém viva ao longo do tempo. Na belíssima cidade de Fernando Pedroza, temos algumas lendas que ao longo da minha vida neste torrão, ouvi sempre falar, nas rodas de conversas dos mais antigos moradores, caçadores, vaqueiros e agricultores. E uma das nossas preocupações é que estas jamais possam se perder da memória ao longo do tempo. Nessa linha de pensamento, no mês de Agosto de 2023, um grupo de Estudantes da Escola Municipal Fabrício Pedroza, realizaram uma pesquisa, cujo o tema foi: O Folclore: redescobrindo e compreendendo lendas e histórias populares na comunidade de Fernando Pedroza. E, um dos principais objetivos foi Identificar através de pesquisa a popularidade e legitimidade das lendas ou histórias populares no Município de Fernando Pedroza.
A metodologia
Para obter os resultados acerca do problema foi elaborado um breve questionário e destinado a um estudo de caso para alguns moradores mais antigos e com faixa etária de idade acima de 50 anos e que sempre residiram no município.
A extensão e aplicação da pesquisa foi realizada pelos estudantes do 7º Ano do Ensino Fundamental Anos Finais e EJA, 4º e 5º Períodos, estipularemos um total de 25 pessoas participaram da entrevista realizada pelos discentes de forma domiciliar. Os resultados foram transformados em pequenos gráficos e apresentados na semana do Folclore nos eventos pedagógicos propostos pela unidade de ensino.
Conforme a pesquisa e resultados dos gráficos apresentados, a conclusão foi que as histórias populares/lendas, tem reconhecimento, popularidade e legitimidade na maioria dos entrevistados no Município de Fernando Pedroza/RN, constatando uma das manifestações do folclore Local.
As Lendas pesquisadas foram: O Serrote do Engole Facas, o Serrote do Batuque/Forró e a Porteira Preta.
Segue abaixo as histórias de cada uma delas.
O serrote que engolia as facas dos
cabras macho que iam ao arrasta pé
Em décadas passadas os
forrós de casamentos, festividades juninas, ou de final de ano nas cercanias
rurais do Distrito de Fenando Pedroza atraía uma multidão pelo desejo de tirar
uma cavalheira pra dançar num forró no sítio ao som de uma sanfona, triângulo,
pandeiro e zabumba, encher a cara de umas “caébras” ou Canjebrina.
Mas em meio a tudo isso, era um tempo que “andar com uma peixeira nos cós das calças” era sinônimo da “cabra
brabo” e ir a um forró sem ela, era taxado de “cabra frouxo”.
Como na maioria das vezes os donos das casas que realizavam as
festanças, devido as inúmeras confusões, as chamadas “ambuanças” proibiam as
entradas dos cabras que resistiam de andar sem as peixeiras.
A única solução para entrar nos forrós que comumente ocorriam nas
Fazendas Tupá, Ariosa, Recanto entre outras, ou mesmo nos forrós que ocorriam na cidade, era esconder as facas em um lugar
“seguro”. Sendo assim, entre as veredas e estradas, os frequentadores das
festanças encontraram um belo serrote para escondê-las.
Sabe-se conforme a oralidade dos
mais antigos moradores desse pequeno torrão, que por inúmeras vezes os
frequentadores escondiam suas companheiras de cós, em um serrote muito formoso
e diferenciado dos demais.
Já no cair da madrugada, quando o aperitivo esquentava as moleiras, era
comum as “confusões”, e para aqueles que deixavam as peixeiras nesse serrote,
certamente das suas companheiras precisavam recorrer, mas é sabido que em
várias situações ao chegar no serrote, se punham a procurar aquela que seria a
salvadora das brigas.
No entanto, muitos jamais encontraram-nas na tão desesperada situação, e
ao amanhecer no alvorecer do sol e da ressaca, as desconfianças e os
murmurinhos que se espalhavam, davam conta de modo inexplicável de que o
serrote havia engolido as facas. Até os dias atuais, os mais antigos moradores,
reconhecem essa história popular com característica de lenda local.
O Serrote do Batuque ou do Forró
As inúmeras serroteiras que existem na extensão das estradas e “varedas”
(veredas) do sertão pedrozense, rodeados da caatinga magistral e encantadora,
enfeitadas com a bela formação rochosa que nos dão a ideia de animais e até de
seres extras, guardam consigo misteriosas histórias que vão passando de geração
em geração, e que estiveram presente na vida de caçadores, vaqueiros,
agricultores, pessoas indo e vindo das feiras e dos forrós...
Pras
bandas das Fazendas Canta Galo, Ariosa, São Vicente, Recanto, entre cercados e
a caatinga esplêndida, há um desses serrotes que misteriosamente ecoa variados
sons, uns falam de batuque muito característico de instrumento musical do tipo
zabumba e triângulo, ou mesmo som de atritos entre duas pedras.
Os
mais antigos frequentadores dessas estradas e “varedas” a leste da comunidade,
sempre relataram que após às 18:00h., era muito comum ouvirem os mais diversos
sons vindos desse serrote.
Há
quem diga que quanto mais se aproximavam do local, maior era a velocidade dos
batuques. O fato é que o memorável e “assombroso” serrote ainda causa certo
arrepios aos que por lá passam, e certamente para os que por ventura um dia
tomem conhecimento desse episódio e resolvam desafiar a ouvir os batuques do
serrote que ninguém jamais viu ninguém, mas que sons já ouviram!
A
Porteira Preta, a que se abre misteriosamente sozinha...
As porteiras no sertão assim como em outros
lugares, assumem uma função, é aquela em que as pessoas acessam uma propriedade,
um curral, um quintal, enfim ela nos representa um marco para um determinado
destino, no sertão nordestino é comum as pessoas usarem as expressões:
É lá perto da porteira de fulano de tal!
... já estamos bem pertinho da porteira de
beltrano!
E o que mais chama a atenção, são as formas
criativas dos sertanejos em relação a confecção artesanal das fechaduras...
A Porteira Preta, misteriosamente conhecida nos
arredores da comunidade de Fernando Pedroza, situada ao leste da cidade, na
encruzilhada das estradas que liga a BR 304 e as casas das Turmas, em direção
as diversas Fazendas, não havia uma fechadura específica, ela se tornou ao
longo dos tempos uma passagem que despertou medo e um enigma que até hoje
ninguém conseguiu explicar.
Conforme relatos de caçadores, agricultores,
vaqueiros, cortadores de lenha, entre tantos outros que precisavam trafegar
para aquelas bandas, relatam que por muitas vezes ao chegar próximo a Porteira,
percebiam que ela se abria de uma forma bem espontânea como se alguém invisível
tivesse manipulando-a.
Frequentemente ouvia-se as pessoas falarem umas
para as outras: “não vá tarde da noite para aquelas bandas das Turma, pra lá há
a porteira Preta mal assombrada!”
Assim, ao se aproximar a ‘boca da noite” o
temor de muitos ao se destinarem para a porteira, era justamente o receio da
ela abrir sozinha, fato que de vez enquanto rolavam boatos de alguém havia se
assombrado ao passar por lá.
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