segunda-feira, 21 de maio de 2018

A linha Ferroviária e o impulso econômico do Povoado de São Romão


      Em algumas matérias publicadas anteriormente em nosso blog, fizemos uma alusão da Revolução Industrial na Inglaterra ao povoado de São Romão no Brasil, não pelas grandes invenções que surgiram lá pelo outro lado do Atlântico em meados do seculo XVIII, mas pelos moldes adquiridos de lá pelos que fincaram suas esperança de progresso por aqui.  
Rua São José - onde passava a via férrea
Estação Ferroviária
    Pois bem, já deu para perceber que nessa pequena e boa terrinha, agricultura a pecuária, as máquinas atrelada a cotonicultura, e até mesmo  personagens oriundos da cultura britânica (os Pedroza) e agora a chegada do trem, foram as pilastras para o seu desenvolvimento. Talvez possamos ser um pouco demasiado, mas todos os aspectos citados condiz com a dualidade entre ambos e  nos leva a entender porque fizemos esse análogo.

Sinal/curva da linha
férrea em Angicos
que destinava a
Oscar Nelson
     A estrada de ferro na Região Central de Rio Grande do Norte, era um grande sonho principalmente para os que empreenderam na cultura do algodão. Em 1901, o trecho Natal à Nova Cruz foi arrendado pela "The Great Western of Brazil Railway Company.  Em 1904 essa estrada começou a ser estudada pelo engenheiro Sampaio Correia, traçando a estrada de Natal a Ceará-Mirim até chegar ao Rio Pataxó que corta o povoado de São Romão seguindo em busca de Angicos, até chegar a comunidade de Oscar Nelson em São Rafael. Anos mais tarde, pela Lei nº 1.155 de 12-06-1950, a estrada passou a se chamar Estrada de Ferro Sampaio Correia.

      Como no final da década de 20, os trabalhos da estrada tinham reiniciado, no dia 26 de Setembro de 1932, se concretizava o sonho dos que moravam no povoado, que foi a inauguração da Estação Ferroviária, tendo como agente José Furtado de Menezes. Esse fato propiciou o escoamento da produção econômica e facilitou o transporte de passageiros. Nesse período segundo Aluízio Alves no livro Angicos, "a povoação possuía 164 casas de tijolo, 72 de taipa, 9 prédios públicos em 1932".
Estação Ferroviária de Fernando Pedroza
      Em pesquisa para um trabalho escolar em data de 14 de Junho do ano 2000, tive a oportunidade de resgatar um pouco sobre os trabalhos na estação com um antigo morador de São Romão por nome de João Batista Braga (in memoriam) foi telegrafista nos anos 50, hoje guardado na minha memória e daqueles que o estimavam. Seu Braga como eu o chamava por algumas vezes, nos relatou que: "os serviços de comunicação na estação, assim como em outras, era feito por um telegrafista através de um código Morse. E a estação recebia e despachava mercadoria para a capital e outras cidades beneficiada pela estrada de ferro. O óleo vegetal extraído do caroço do algodão era despachado para Natal pelo trem e daí em navios para diversos Estados, recebíamos de Natal pela mesma linha: tecidos, remédios, frutas e gêneros alimentícios". Vale salientar que alguns produtos descritos que saía do povoado eram produzido na usina São Joaquim em São Romão.  Esses escritos, tenho como fonte através de algumas laudas datilografados pelo o mesmo, já que na época (2000) ainda não circulava computadores em Fernando Pedroza. Nesse documento encontra-se também a prática/leitura de codificação usados para a comunicação entre os telegrafistas.
         
Ruínas dos pilares da Antiga ponte
férrea na Rio Pataxó em Fernando Pedroza

Dona Maria Soledade 
    Ainda conforme uma das mais antigas moradoras e artesã de Fernando Pedroza por nome de Maria Soledade Nunes Cardoso (92 anos), nascida ainda no povoado de São Romão, e que também constituiu toda a sua família por aqui, casada com o Saudoso Luiz Leandro (conceituado marceneiro, inclusive participou da construção de Brasília), Dona Maria, contemporânea dessa época ressaltou que: Eu viajei muitas vezes daqui pra Natal com minha vó, era uma viagem demorada, se tornava longe a viagem. Antigamente as pessoas usavam umas quartinhas que vendiam água, umas cocadinhas, tudo isso eram vendidas aqui na Estação e ao longo da viagem. As mercadorias que vinham no trem eram todas em saco ou caixão, eu me lembro que a carne de charque vinha num caixão, a carne toda arrumadinha num caixão (...) a rapadura era num garajau, esses eram feitos de palha, o milho e feijão, tudo isso vinha pra cá. A viajem durava mais ou menos de 4 (quatro) horas de viagem para chegar em Natal, porque o trem daqui era muito devagar, tinha muitas paradas daqui pra Natal, em cada parada, não demorava meia hora, não! (...). Lembro de alguns funcionários como: João Braga e Bodete, o João morava nessas repartições da próprio estação e nas casas das turmas, moravam também funcionários da linha férrea do trem.
Casas das turmas

    Segundo antigos moradores, a extinção do trafego do trem aqui em Fernando Pedroza, ocorreu provavelmente entre os anos de 1966/67 quando a antiga ponte desmoronou com uma forte enchente do rio Pataxó.
   Portanto, principalmente para quem não vivenciou tudo isso, imaginemos, o trem passando e parando no povoado, o movimento comercial na Estação, a usina em pleno funcionamento com sua serene tocando para entrada e saída dos operários, a feira na Rua Velha, as missas na capelinha, a  plantação e expansividade da produção do algodão nas várias fazendas, inclusive em São Joaquim, o movimento dos agricultores, helicóptero de vez enquanto pousando no povoado, a vinda do presidente Getúlio Vargas por aqui. E ainda, as frequentes vaquejadas, o som da divulgadora através do "boca de ferro" antigo auto-falante que servia para informar o que acontecia no povoado, e atrelado a esse intenso movimento local, as equipes de futebol de campo que se formaram. Percebe-se que para alguns moradores, o povoado viveu um momento "áureo", para outros, "ainda" desenvolvendo. Ressaltamos esses acontecimentos da nossa historiografia, pois a história busca através dos fatos identificar as mudanças e permanência ao longo do tempo.

Um comentário:

  1. Tenho a impressão que o povoado era mais movimentada que a atual cidade, em todos os aspectos, principalmente econômico

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